sábado, 19 de dezembro de 2009

A Arte-marcial do amor

Em qualquer modalidade onde há um adversário a ser combatido, seja em jogos, competições, lutas. É possível traçarmos um paralelo com nossas relações amorosas. Em situações como estas, sujeitas a derrota, a frustração, é que o vencedor pôe à prova toda a sua capacidade de lidar com o fracasso, um pré-requisito fundamental para todos que participam de uma disputa, pois inevitavelmente, sempre haverá uma vencedor e um perdedor.
Isso vale também para o amor, que não é mais que um jogo, uma luta, onde há a possibilidade de um dia sermos derrotado por causa de nossos erros, e chegar ao fim. Do mesmo modo como nunca houve um lutador imbatível, quem se dispõe a amar, deve aceitar que um dia poderá sofrer a dor da perda da pessoa amada.
No caso da derrota em um torneio de artes-marciais qualquer, todos os lutadores sabem que passada a frustração, o empenho se dá à busca das causas do insucesso. Não para mudar o resultado do jogo , ou mesmo mascarar o fracasso, uma vez que é passado, não temos como voltar atrás, a não ser que alguém possua uma máquina do tempo, fora esta hipótese, é impossível. E ao constatar e analisarmos os erros, podemos estruturar uma nova forma de lutar, reforçando os pontos fracos, diminuindo a possibilidade deles ocorrerem, aumentando as chances de vitória. Mas o mesmo não acontece com nossas vidas amorosas, as atitudes teriam que ser as mesmas, analisar os pontos fracos, refletir sobre mudanças, e desenvolver a capacidade de fazer diferente em outra relaçao. Em geral isso não ocorre com a maioria das pessoas. Elas se deprimem pela derrota e desistem de amar. Alguns revoltam-se e negam a perda, tornando-se um tormento na vida do ex-parceiro, e outras pessoas que logo iniciam uma série de outros relacionamentos, repetindo os mesmos erros, o que os tornam um fracassado crônico, e isso indica uma total incompetência em não saber aceitar a derrota.
Todos sabem o pricípio básico da busca pelo sucesso: “não há evolução sem mudanças e não há mudanças sem a ocorrência de erros”. Tal idéia foi incorporada nos mais variados ramos da sociedade, como nos esportes, empresas, até no exercício do regime político, porém isso é um caso a parte. Mas quando se refere aos dilemas do coração, ninguém vê uma separação como um meio de perceber os erros, aprender e evoluir como pessoa, e quem a vive é visto como um fracassado. É preciso criar conciência que as relações amorosas também evoluem. Infelizes são aqueles que tentam nunca errar e se mantêm num relacionamento ou mesmo na vida, sem conflitos, estagnados, infrutíferos. Nunca irão saborear a verdadeira sensação de vitória, e nunca irão aprender a crescer com as derrotas.
É lamentável perceber que no fim de um torneio o desempenho poderia ser diferente, que até sabíamos como não errar e que não poderíamos errar de maneira tão grosseira. Mas a verdade é que nenhuma explicação ou justificativa de erro muda o resultado, muitas pessoas tem dificuldade de aceitar a derrota e mesmo logo após o jogo ter acabado tentam desesperadamente mas sem sentido, uma segunda chance, mesmo estando exaustos fisicamente e mentalmente. Errar e perder fazem parte da busca do sucesso, mas o motivo de todos, claro, é ganhar. Um campeão sabe que a derrota é um acidente de percurso, pode até mesmo ser um forma de perceber que sempre haverá novas técnicas pra aprender e novos desafios, e que todos passam por ela para melhorarem a si próprios. Pessoas que não sabem perder, também não sabem ganhar. É preciso ter coragem e determinaçao para não se entregar, nunca “jogar a toalha”, e perceber que o melhor momento da revanche, é quando sentirmos totalmente preparados para ela, depois que aprendemos com os erros, com novas experiências, e isso irá acontecer querendo ou não, para aqueles cuja a intenção é a vitória. E não há vitória mais saborosa do que derrotarmos aqueles que um dia nos derrotaram. Assim é nas lutas, assim é na vida, assim é no amor.

Alexandre Araki


Texto escrito em 01/08/02

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