M.O.U.

Todo mundo já ouviu alguma historia fantastica sobre cães, sobre seus atos heróicos, de amizade, fidelidade, etc. Mas racionalmente para mim, um cão e simplesmente um cão, uma especie totalmente diferente da nossa, exceto pelo Reino Metazoa, Filo Chordata, Classe Mammalia que sao os mesmos. Racionalmente dizendo é isso, porem como posso explicar que sinto as vezes como se houvesse algo mais, uma ligaçao que transcede o conhecimento que possuimos atualmente. Eu tenho um pensamento que nao somos nós que escolhemos nossos cachorros, são eles que nos escolhem! Quase como por veias misticas! Algo predestinado! Eles entram na nossa vida quando mais precisamos, e quantas vezes temos a sensaçao de que eles nos entendem mais do que imaginamos?
Quem nunca percebeu que os caes acabam ficando parecidissimos com seus donos, principalmente psicologicamente! Mas será isso verdade? Tenho minhas duvidas quanto a mudança de uma personalidade canina, creio que ela seja inata, e pode parecer ridiculo meu comentario, mas ainda acho que cada cão jah tem seu dono predestinado, quase como uma alma-gemea canina! Afinal, assim como pessoas, temos tambem mais afininade com alguns cães do que outros.


E a minha historia começa no japao. Sempre gostei de caes mas nunca tive interesse em adquirir um cachorro, ainda mais lá, e só de pensar no trabalho que é trazer o animal quando voltar e mesmo pelos preços absurdos de aquisiçao(algo em torno de 1500 dolares) já era bastante desanimador. Porem um belo dia, visitando uma loja de animais para comprar raçao para peixes(eu criava betas crowntale e tinha um aquario de 60 litros) em minokamo-gifu, me deparo com um choro misturado com um latido irritante e incessante de um filhotinho de 3 meses olhando pra mim. Ouço a vendedora falar em japones para uma menina que estava vendo ele, que geralmente ele é bem otonashi (calminho e quietinho), e a menina pegou ele no colo e mesmo assim os gritinhos nao paravam e os olhinhos do filhote miravam em minha direçao. Depois que a menina foi embora, eu fui la dar uma olhadinha nele que nao parava de chorar olhando pra mim, e perguntei para a vendedora se essa raça era irritante assim mesmo, ela toda educada respondeu que maltes em geral é mais calminho (eu nem sabia que raça era aquela!). perguntei se poderia pega-lo, e feito isso o bixinho me da umas lambidas no rosto quase como se estivesse dando risada, para de chorar e dorme!!! Aquilo me encantou de um jeito! mas pensei comigo mesmo pelo meu lado racional: poatz, nao tenho como comprar o bixinho, alem do que é um absurdo de caro! coloquei ele de volta na cerquinha antes que pudesse me apegar a ele, mas já era! e quando coloquei ele de volta já começou o berreiro, ficando de pé apoiado na cerquinha, olhando pra mim e chorando. E saindo da loja, ele começou a latir e chorar bem mais alto, fiquei atordoado com os gritinhos dele,( parecia que tavam matando o coitado) e sem me dar conta já tinha ido no caixa eletronico e já estava com o dinheiro em maos para leva-lo!
Enfim, por mais racional que fosse minha mente de nao leva-lo, meu coraçao já sabia que nao tinha outro jeito! eu já tinha sido escolhido por ele, e depois que a loja deu um trato nele (banho, talquinho etc), sai com ele no colo, e a menininha que estava vendo ele anteriormente, havia voltado com os pais para compra-lo, e para sua decepçao o bixinho já tinha conseguido o que queria. Nao vou negar que havia algo de especial nele, um sentimento mútuo que se exteriorizava naturalmente.
Faltava um nome para ele, e depois de pensar muito, resolvi batiza-lo de Momo (pessego em japones) devido a coloraçao de sua pele, mas aparentemente ele nao gostou muito, afinal nunca atendia. Por fim, para facilitar, resolvi chama-lo pelo diminutivo: Mo! e lembrando a cena do filme beethoven, ele responde com um latido! e assim ficou, e para melhorar a estetica do nome, foi registrado como Mou (vulgo: Mouzinho, Mou-chan etc).


O tempo foi passando, mas as demostraçoes de alegria e felicidade dele eram sempre intensas, assim como as situaçoes engraçadas, tais como: destruir o aparelho de massagem por pensar que me machucava, pular na minha cabeça e ficar lambendo meu rosto assim que o despertador tocasse, ficar me cutucando e chorando a noite quando estava com fome ou quando a agua acabasse, e o mais engraçado, quando aprendeu a fazer as necessidades somente no banheirinho dele, e fazia questao de me chamar para ir ver! (parece até brincadeira). E logo comecei a ensinar uns truques basicos que todo o cachorro sabe, mas ele aprendeu algumas especias do tipo: fingir que esta levando tiro, dar abraço, tirar minha meia quando eu pedisse, entre outros. Mas o fato mais interessante, que esta relacionado com este topico foi quando estava entrando numa crise profunda de depressao. O Mou parecia sentir que alguma coisa nao estava bem, e ficava o tempo todo do meu lado, sem brincadeiras ou abanos de rabo, apenas do meu lado para onde eu fosse (a maior parte do tempo na cama), nao comia e nem brincava mais. E numa noite quando culminava os pensamentos negativos, uma lagrima escorreu pelos meus olhos, e presenciei a cena que vai ficar marcado pelo resto da minha vida. O Mou lambendo a lagrima, chorando baixinho, e depois deitando do meu lado olhando pra mim com lagrimas nos olhos! Parece até mentira, mas os olhos dele estavam cheios de lagrima e escorrendo pelos lados. Foi quando percebi o quanto eu estava fazendo ele sofrer tambem. E percebi que ele ficaria assim enquanto eu estivesse naquele estado. Foi a força que eu precisava para superar aquele episodio, assim como alguns outros. É por isso que hoje eu tenho certeza que ele já sabia que eu era o seu dono, que tinha que leva-lo embora, para cuidar bem dele, ama-lo, e principalmente para me ensinar que as pessoas (ou os caes) que nos amam, sofrem pelo nosso sofrimento, e se alegram com nossa alegria. E mesmo que seja predestinado, ou pelo acaso, ou mesmo nada disso, uma coisa é verdade: o Mou, assim como muitos outros caes, possuem um intelecto que nao podemos medir, e sensibilidade que muitos humanos nao possuem, e principalmente possuem um dom maravilhoso: a capacidade de nos amar incondicinalmente!!!